Abrazo de Gol: independente e autoral

Independente e autoral. Estas são duas características ou até virtudes que definem muito bem a banda gaúcha Abrazo de Gol. O quinteto de rock alternativo, que fez seu primeiro show oficial em setembro de 2014, está pronto para liberar o EP de estreia, Notícias de Inverno. O material é composto por seis músicas próprias – três faixas já foram lançadas como singles (Fluoxetina, Lobotomia e Guerra). O trabalho completo, que inclui ainda as inéditas Ressaca, Personagem e Silêncio&Abajur, chega às principais plataformas de streaming no dia 28 de setembro.

Formada em Torres, no litoral norte gaúcho, a Abrazo de Gol é integrada por Matheus Mota (vocal), Douglas Magnus (guitarra), João Lucas (guitarra), Thiago Mattos (baixo) e Filipe Minotto (bateria).

Matheus Mota (Foto: Divulgação)

O Zine Musical conversou com o vocalista Matheus Mota. Confira na sequência a entrevista completa:

Como, quando e onde surgiu a Abrazo de Gol?
Matheus Mota: A banda surgiu inicialmente de três amigos (Douglas, Filipe e Matheus) que se juntavam pra tocar violão e tomar um trago por diversão em ocasiões e locais variados, como roda de amigos, luais, ou em esquinas meio sujas. Ao final de 2013 surgiu a oportunidade de tocarmos de forma acústica em um bar no nosso bairro, em Torres, cidade do litoral norte do Rio Grande do Sul. Ali nós já tínhamos algumas composições próprias e engatinhávamos em ensaios de estúdio, ainda sem formação fixa e definida, o que veio a ocorrer em meados de 2014, quando o João Lucas entrou pra banda como baixista. A partir disso fechamos repertório e evoluímos nossa estrutura enquanto banda, já mesclando sons autorais com alguns covers de bandas influenciadoras. O primeiro show oficial dessa formação ocorreu em setembro de 2014 no Guarita Park Hotel, quando abrimos para o The Beatles no Acordeom, do Diego Dias, tecladista da Vera Loca.

“Abrazo de Gol é júbilo puro. Nos aproxima da real natureza e beleza humana, que o meio social geralmente nos afasta, e isso simboliza bastante o que a gente gosta de passar nas letras e sonoridades. A arte como forma de expressão e percepção das belezas, verdades e hipocrisias que nos cercam.” Matheus Mota

Curioso e excêntrico o nome da banda. Conte um pouco sobre essa denominação?
Mota: Abrazo de Gol é um termo que os castelhanos utilizam como cumprimento mesmo. Em vez de “forte abraço” ou “abração”, usam “abrazo de gol”. Na hora do gol, tu abraça quem tá do teu lado, mesmo sem nunca ter visto na vida. Já presenciamos momentos em que o êxtase de um gol aos 46 extravasa tudo o que existe de diferenças entre pessoas. É júbilo puro. Nos aproxima da real natureza e beleza humana, que o meio social geralmente nos afasta, e isso simboliza bastante o que a gente gosta de passar nas letras e sonoridades. A arte como forma de expressão e percepção das belezas, verdades e hipocrisias que nos cercam.

Como está estruturada a formação da Abrazo de Gol?
Mota: A banda atualmente conta com cinco integrantes. Eu (Matheus Mota) canto, escrevo as letras, construo algumas bases; o Douglas Magnus e o João Lucas (que era baixista de início) são os guitarristas e, geralmente, compõem os riffs e produzem mais a fundo os arranjos das canções; o Filipe Minotto é o baterista, e também ajuda bastante nas composições. Sabe tocar instrumentos de corda e é muito criativo, o que facilita o processo. E por fim, o Thiago Mattos é nosso novo baixista, tá entrando na banda agora, substituindo o Zeto Bazana, que teve que sair recentemente.

Quais as principais influências e referências da banda?
Mota: Como qualquer banda de rock que surgiu nesse século, somos influenciados por Beatles e Stones. Pink Floyd, Oasis, Arctic Monkeys, Foo Fighters, QOTSA. Cada um traz um pouco de si e da sua bagagem pra banda, e todos tem particularidades. Mas por estarmos onde estamos, não podemos negar a influência do Júpiter Maçã e do Engenheiros do Hawaii. Contribuem muito em melodia e forma de pensar e escrever a arte. Muito do que existe hoje do rock que se faz no Rio Grande do Sul se deve a eles. Outras bandas brasileiras como Legião Urbana, Vanguart e Vivendo do Ócio também nos inspiram muito.

Como vocês definem a Abrazo de Gol?
Mota: Respondemos com uma pergunta: o que é rock gaúcho? Consideramos como o rock feito no Rio Grande do Sul e só. Somos uma mescla de sonoridades que pode, de repente, pertencer ao rótulo de rock alternativo. Mas, rotular é complicado, porque sempre que aparecemos com uma nova composição no estúdio ou mesmo nos shows, as coisas se diferem das anteriores. Fica tudo meio discrepante e saber identificar exatamente da onde veio isso ou aquilo quando a música fica pronta, é muito difícil, porque tudo surge da vivência, da experiência, da percepção do entorno. A gente se define como a icônica Abrazo de Gol, de Torres.

Conte nos um pouco sobre o Notícias de Inverno? Como está sendo a produção do EP?
Mota: O EP Notícias de Inverno é um sonho antigo. As músicas falam de percepção, existencialismo, sensação. Chegamos a fazer a pré-produção desse projeto em 2015, mas por problemas com o produtor e por não estarmos, de fato, prontos para gravar, demos um passo pra trás e aguardamos. Então, desde o início do ano passado, começamos a trabalhar os valores que entravam de cachê para que pudéssemos custear as gravações e produção no todo. Gravamos no verão de 2018 no estúdio do Fabinho, no Bairro Vila São João aqui em Torres, mesmo. O cara é sensacional, nos deu total liberdade pra gente fazer o que queríamos e colaborou muito na produção das faixas. Inicialmente gravaríamos apenas quatro músicas, mas como conseguimos fazer muitos shows no verão, adicionamos mais duas. E, novamente adaptando formas de se trabalhar, lançamos três músicas separadamente como singles, para lapidá-las mais a fundo como músicas de trabalho. Fluoxetina, Lobotomia e Guerra. Agora, no próximo dia 28 de setembro lançaremos as seis, com três inéditas (Ressaca, Personagem e Silêncio&Abajur), dentro do conceito estabelecido e da forma que queremos mostrar ao mundo. O EP será distribuído nas principais plataformas de streaming, como Spotify, Deezer, Google Play, YouTube, e posteriormente, se tudo der certo, confeccionaremos em meio físico também.

Como é ser uma banda independente e com som autoral?
Mota: A gente entrou nessa pra poder se expressar. Escrever é existir, a gente sabe disso. Sente isso. Então, ser banda independente é difícil, porque por mais artístico que seja o teu envolvimento, música é business. Tem muita gente que vive só disso e que a gente respeita muito. Não podemos ir no bar, ou na casa de shows, tocar de graça só pra se expressar. Existe uma balança, um equilíbrio que temos que observar sempre, e caminhando nessa corda bamba a gente segue. Queremos nos mostrar, mas pra isso foi necessário nos tornarmos atrativos. Levamos amigos, produzimos um show interessante pra casa poder nos pagar. Tudo isso com baixo investimento, com adaptações, elaborações de métodos próprios e produção de conteúdo por parte da própria banda, de forma independente. O crescimento do público admirador do nosso som autoral cresceu muito desde que progredimos enquanto artistas e como entendedores de como funciona o meio no qual estamos inseridos.

E a cena independente da região de vocês. É efervescente?
Mota: Em Torres sempre teve banda autoral, e é uma cidade que respira música, por ser turística, atrativa. Temos diversas bandas que constroem conosco, festivais e eventos independentes. Posso citar a Rosa de Vênus, banda importantíssima, que já lançou álbum completo, EP, diversos clipes, e agora tá numa fase muito bacana, pós-lançamento do single Jogo, vão lançar registro ao vivo e tudo mais, isso enriquece bastante a cultura da cidade. A Doctors Zé, banda antiga da aldeia, ainda tá em atividade e é muito legal também, pessoal muito gente boa, e tocam demais. No meio autoral, também podemos citar a lendária Torrica HardCore, a Dirty Mind, a We3+ dos irmãos Abel, e o nosso próprio baixista, Thiago Mattos, que tem trabalho autoral devidamente lançado nas principais plataformas. Tem uma banda que toca um som mais pesado, mas que eu não posso deixar de citar, a Cerberus, os caras tocam demais. E recentemente surgiu a SocialMask, banda de monstros aqui da cidade. Só músico de primeiríssimo nível, e vêm fazendo um trabalho de divulgação muito forte e bonito. Tocaremos com eles no próximo dia 13 de outubro na Lift. Vai ser a festa de lançamento oficial dos EPs da Abrazo de Gol e da SocialMask. Isso tudo em Torres. Na região podemos elencar mais bandas, todas têm o nosso apreço e reconhecimento. The Bozos de Três Cachoeiras/RS; Barba Rala, que na minha opinião é uma banda que tá num nível acima, os caras são impressionantes; The Cezars, Vila Samaria, Raizá, e tantas outras do sul catarinense, onde a cena é efervescente. Possivelmente esqueci de gente importante, mas ressalto que estamos rodeados de grandes bandas e ficamos felizes de construirmos tantas parcerias e amizades com esses artistas.

(Zine Musical)

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