Primavera Blue: o rock da Paraíba

Primavera Blue é uma banda paraibana, formada durante a primavera de 2018, com forte influência do pós punk. Formada por músicos oriundos de grupos com estilos distintos o que, a princípio, poderia ser uma junção complexa, se transbordou em sinergia pura e simplicidade.

Integrada por Fábio Medeiros (vocal), Guilherme Fechine (guitarra), Fábio Jorge (baixo) e Hardman Sobrinho (bateria), a Primavera Blue vem se apresentando com regularidade, divulgando o EP Antídoto (2019), que está disponível em plataformas como Spotify, iTunes, YouTube e Deezer.

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O Zine Musical conversou com o vocalista da Primavera Blue, Fábio Medeiros. Confira na sequência a entrevista completa:

Como foi criar a Primavera Blue?
Fábio Medeiros: Nós conhecemos desde o início dos anos 1990. Naquele momento havia uma agitação em torno do grunge e de tudo o que ele representava, a libertação dos anos 80. Eu tocava um projeto folk, Os Filhos de Maria; o Guilherme Fechine integrava o Projeto 50; Fábio Jorge estava no Nailspop e o Hardman Cavalcanti no Highdivers. Um amigo em comum a todas estas bandas, Jesuíno André, resolveu fazer uma coletânea com as bandas em atividade naquele momento. Daí nasceu Ensaio de Música Rock – vol 1 lançada pelo selo Musicland. A coletânea saiu em fita cassete e todos fomos felizes até a morte de Kurt Cobain.

Fábio Medeiros

Passadas quase três décadas, a situação política do Brasil se deteriorou mais ainda e entramos numa espiral de volta a um tempo que parecia que tinha ficado para trás.

Na vaga dos acontecimentos, início de 2018, Fábio Jorge e Jesuíno André convidaram eu e o Guilherme para produzirmos o volume dois da Ensaio de Música Rock, com as bandas em atividade atualmente. Não saiu a coletânea e nem sabemos qual foi o futuro desse projeto.

Paralela e simultaneamente, eu e Fábio Jorge passamos a nos encontrar em minha casa, pela proximidade do trabalho dele, para tomar café e conversarmos sobre a situação geral. Na ocasião eu mostrava minhas composições e as demos que eu fazia com o violão acompanhado pela bateria fixa de um synth, o Yamaha pss 570.

A ideia de nos reunir para produzir a coletânea virou um pretexto para o surgimento da Primavera Blue. Era outubro de 2018, as coisas só pioravam no contexto político e músicas como Escapei e A Palavra haviam sido escritas sob aquela atmosfera de incertezas.

Fizemos o primeiro ensaio e os arranjos foram fluindo como se o tempo estivesse a nosso favor mais uma vez. Saímos do ensaio com a Primavera Blue na cabeça e logo estávamos fazendo apresentações ao vivo.

O que mudou no cenário musical desde a época em que você cantava no Flávio Cavalcanti, sua banda de origem, até o momento? O cenário mudou para melhor ou para pior?
Medeiros: O mundo mudou drasticamente desde o advento da internet. As relações humanas, as formas de aprender a realidade e consequentemente a nossa visão de mundo mudaram. Tudo que parecia sólido desmanchou no ar.

“As dificuldades que existiam nos anos 1990 para produzir música independente foram superadas com o acesso a equipamentos e tecnologias antes muito caras e inacessíveis.” Fábio Medeiros

O EP Antídoto foi gravado no mesmo estúdio onde ensaiamos e mixado e masterizado aqui em João Pessoa. Hoje essa etapa do processo de produção mudou a perspectiva para quem faz música independente.

No tocante a distribuição temos mais liberdade para levar a nossa música a um público maior e mais diverso. Embora a monetização ainda seja o maior desafio a ser superado para quem faz música independente.

Você considera a Primavera Blue uma evolução ao seu trabalho da Flávio Cavalcanti?
Medeiros: O FC foi um projeto que ecoou para além das nossas pretensões. Fizemos um disco independente que repercutiu no mainstream nacional que nos levou a assinar com a Virgin Music e com a Abril Music. Não colhemos o esperado pois era o momento de transição da indústria analógica para a digital.

No FC eu tive a oportunidade de musicar poemas de autores norte-americanos que fazem parte da minha formação como Stephen Crane e Carl Sandburg e de mostrar minhas composições como Enquanto os Garotos Jogam Bola, Quando Chove e Pode Ser. Musiquei o poema Animais em Você, do artista plástico Fabiano Gonper.

Na Primavera Blue eu escrevo as músicas e juntos criamos os arranjos e as nuances que cada canção terá. É um processo criativo mais livre e mais independente como banda.

Eu procuro apresentar sempre materiais que possam contribuir com a ideia original de reconduzir o rock, como linguagem estética e posicionamento político, a um desejo coletivo de transformações sociais.

A banda possui até o momento dois clipes, Jodele e Escapei. Dá prá falar um pouco de cada um deles?
Medeiros: Jodele foi a primeira música composta coletivamente mesmo, tem um pouco dos quatro nela. Até porque a música foi inspiradora numa situação comum a todos que nos impactou com a mesma força.
Escolhemos ela para ser o primeiro clipe/single pela força que essa música tem ao vivo e também porque temos um vínculo muito forte com a cidade de Caicó, citada na letra. Foi nossa primeira experiência com o audiovisual que tivemos a sorte de montar uma equipe de amigos da área, que vestiram a camisa da Primavera.

No clipe de Escapei mantivemos a mesma equipe, e o resultado ficou muito bom novamente. Essa música é das mais emblemáticas do EP Antidoto. Ela encerra toda a questão política do Brasil atual e achamos que essa seria a hora de lançar o clipe.

Ainda sobre o clipe de Jodele, você acredita ser válido mostrar a representação de uma pessoa trans, por meio do seu trabalho? Como foi esse contato com a atriz do clipe?
Medeiros: A canção Jodele fala de uma mulher com inúmeras facetas e com a coragem de encarar o mundo de cabeça erguida. A escolha de Izabella para o clipe reside nesse tema tão sensível e necessário de ser amplamente discutido, seja por meio da arte ou de políticas públicas. Trazer uma atriz trans para o clipe de uma banda de rock teve o intuito de provocar a reflexão sobre a própria essencia libertadora do rock.

E de bandas novas do cenário, o que vocês vêm escutando?
Medeiros: Atualmente, escuto bastante bandas independentes como Nardonis, Margaridas em Fúria, Carrapato’s, Vênus In Fuzz, todas paraibanas. É uma safra muito boa e que tem renovado o cenário com outras propostas estéticas.

Tenho escutado muito a Bi_xarte, uma rapper travesti negra da periferia de João Pessoa/PB, cujo trabalho tem uma força muito grande para além do hip hop.

Hoje presto mais atenção ao que está se transformando e surgindo ao meu redor com potencial para atingir qualquer canto desse planeta.

Edição: Michel Pozzebon
Fotos: Rafael Passos e Divulgação

(Zine Musical)

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