Signo 13, o grupo que vem do celeiro brasileiro de bandas independentes

Signo 13 (Foto: Divulgação)

Brasília/DF segue como celeiro de ótimas bandas independentes. E a Signo 13 está aí na ativa desde 2012 para confirmar isso. Seu último trabalho, Serpentário, saiu em 2020 e continua reverberando, com sonoridade pós-punk, gótica e, por vezes, até surf music.

O Zine Musical conversou com Felipe Rodrigues, vocalista e guitarrista da Signo 13. Confira na sequência a íntegra da entrevista:

[Zine Musical] Como surgiu a ideia de formar a Signo 13?
Felipe Rodrigues: É o trabalho que irei dar manutenção até os meus últimos dias aqui na Terra. De repente isso possa soar meio dramático, mas foi com essa intenção que resolvi montar o projeto, uma banda que me acompanhasse ao longo dos anos. Tive muitas participações efêmeras em grupos musicais e isso foi me irritando a médio e a longo prazos. Hoje trabalho mais nos bastidores, fazendo produção.

A banda é um organismo que se desenvolve melhor no estúdio. Neste ano de 2022 montei uma formação com Douglas Almeida no baixo e Rubens Cardoso na bateria para celebrar os dez anos de estrada, com uma minitour, mas a ideia é produzir mais em estúdio e fazer apresentações ao vivo quando forem pertinentes, de uma maneira mais qualitativa e não quantitativa.

“A Signo 13 é a obra da minha vida.” Felipe Rodrigues

[Zine Musical] Desde que a banda surgiu, qual a maior mudança que você observa no cenário independente? Como é manter uma banda e sua formação atualmente?
Felipe Rodrigues: Em 2022, completei 20 anos de carreira como músico e um decênio de Signo 13. O cenário mudou de uma maneira muito rápida nas duas últimas décadas. Algumas características só mudaram de uniforme.

Felipe Rodrigues (Foto: Victor Peixe)

“Atualmente, o jabá é impulsionamento no Facebook. Só que hoje é uma tática de Marketing vista com bons ‘olho$’.” Felipe Rodrigues

A gente lançou um álbum com 15 músicas em pleno 2021, em um momento em que quase ninguém mais ouve um disco cheio de uma banda, mas ainda bem que trabalho com malucos e é pra esse pessoal que realizamos o trabalho.

Hoje é um problema acompanhar o progresso, a globalização trouxe uma falsa sensação de acompanhar esses avanços de forma simultânea, mas na realidade a educação, a defasagem de conhecimento, são cenários que variam muito de acordo com o lugar em que você estiver… se tornar obsoleto é uma iminência constante, e está tudo bem não ser bom em tudo.

Continua sendo dispendioso manter uma banda, os gastos, os riscos, ainda há muita similaridades com uma cena de anos, décadas atrás, mas com certeza muita coisa foi facilitada, hoje o home estúdio possibilita um fluxo maior nas produções, o contato entre os integrantes rola mais fácil, as nuvens, os aplicativos dos smartphones são excelentes para realizar demos, pré-produção.

[Zine Musical] Ano passado, a Signo 13 lançou, simultaneamente, um EP e um full album. Conte-nos mais sobre estes trabalhos.
Felipe Rodrigues: O disco Serpentário é o nosso primeiro álbum. Os singles saíram durante 13 meses consecutivos, entre os anos de 2019 e 2020. No ano passado reuni essas músicas mais dois bônus para um lançamento coletivo em CD digipack pelos selos Tudo Muda Music (DF), Plutão em Pedaços (MG), Manaós Distro (AM), Plainsong (RJ), Two Beers Or Not Two Beers (GO) e Sebo Escafandro (DF). Em 2022 saiu em K7 pelo selo russo Black Kingdom Records. Cada single possui vídeo e arte de capa exclusivos. Convidei 13 artistas do Distrito Federal, entre ilustradores, fotógrafos, colagistas para criar a estética visual de cada single.

Animal Ancestral é um EP conceitual contendo três canções. O lançamento foi em setembro de 2021. As composições trazem uma reflexão sobre o processo evolutivo da humanidade, de como o homem contemporâneo é similar com o homo sapiens primitivo. Será que realmente estamos
evoluindo ou somente as ferramentas que nos cercam? É um EP de pouco mais de 15 minutos, com os temas “Luz e sombra”, “Fogo e gelo” e “Ritual e sacrifício”. Gravei em um esquema one man band, do it yourself, home studio recordings.

Compus as músicas de Animal Ancestral durante a pandemia, o conceito está também na escolha dos acordes e tem muita influência de Killing Joke, W.D.M, New Model Army. Em nosso canal do YouTube dá para acessar os vídeos em HD desses lançamentos e ouvir em alto e bom som o audiovisual dessas obras.

[Zine Musical] A Signo 13 bebe do pós-punk anos 80. Mas há outras referências musicais para a banda?
Felipe Rodrigues: O pós-punk é a moldura da mensagem, mas as referências sonoras são diversas, as mais perceptíveis são a surf music e o punk/hardcore. Em quase todos os lançamentos da banda tem uma track instrumental surfpunk. Vendetta, Brazza, Dente de Ouro, Zémar, Rikk Agnew e 45 Grave são alguns bons exemplos dessa experimentação de post punk e surf music. Dentre outras referências posso citar o dub, garage, gothic rock e metal.

“Apesar dessa atmosfera anos 80, o Signo 13 busca ser atemporal no texto e no som. Gosto de muita coisa oitentista, mas sem saudosismo, e às vezes é bem chata essa saudade exagerada do passado que percebo em algumas bandas.” Felipe Rodrigues

[Zine Musical] Conte-nos mais sobre as composições da Signo 13.
Felipe Rodrigues: Hoje, a banda já tem, em média, 50 composições. Então, já abordei muitos temas. Mas, na maioria das letras são abordagens autobiográficas, que beiram o ridículo de tão íntimas. Há muita influência de outros formatos como o cinema, artes visuais e plásticas, as histórias em quadrinhos, mas sempre acompanhado de uma contextualização real.

[Zine Musical] Qual o motivo do hiato de seis anos entre os lançamentos dos álbuns Fata Morgana e Serpentário?
Felipe Rodrigues: Nesse período participamos de algumas coletâneas como Temple of Shadow Vol.2, que contém a última participação da banda Harry antes da morte do seu vocalista Hansen, participamos também da Post Generation, coletânea organizada pelo Nenê Altro, e comparecemos
também na clássica compilação brasileira De Profundis Vol.4. Nessa época eu estava concluindo minha graduação em Biblioteconomia e fazendo a pré-produção do que viria a ser o Serpentário, fazendo os arranjos, finalizando composições e salvando grana para fazer esse material, que foi bem complicado por se tratar de produção completamente independente.

Tento manter a banda sempre em atividade, em dez anos de caminhada a banda tem 11 lançamentos na discografia entre splits, EPs e full album. Muitas participações em coletâneas dentro e fora do Brasil, o lançamento mais recente foi o álbum Home Sweet Rec’s com versões acústicas do nosso repertório e algumas versões, em breve estará nas plataformas abissais, mas já dá para ouvir em nosso Bandcamp. Recentemente, participamos de duas coletâneas em vinil, Divina Tragédia Vol.1, lançado pelo selo Sigillum, e o segundo volume da compilação promovida pelo selo mezzo/espanhol/brasileiro Sinistro Records.

[Zine Musical] Já tocaram fora de Brasília? Tem alguma apresentação, em especial, que marcou a banda?
Felipe Rodrigues: Poucas vezes. Já tocamos em Goiânia/GO umas cinco ou seis vezes. É sempre bom fazer um som por lá. Por duas vezes estivemos em São Thomé das Letras/MG tocando no festival Woodgothic e, recentemente fomos à Belém/PA para o primeiro festival Vozes do Abismo e foi algo bem especial, pois estávamos celebrando dez anos de banda. Lá fomos muito bem recebidos, foi realmente um presente de aniversário e uma experiência maravilhosa. Esse show, inclusive, virou um documentário, Vozes do Abismo Festival: Ecos do Underground em Belém do Pará, lançado em outubro — o doc pode ser conferido no player abaixo.

[Zine Musical] Brasília ainda é celeiro de boas bandas? Quais?
Felipe Rodrigues: Podemos dizer que sim. O Distrito Federal ainda é terreno fértil para música. Das descobertas mais recentes posso citar Escrito Urubu, Tomb of Love, Niilismo, Brutal Mary, Vasto Infinito, INGRD, Nuggetz, Desonra, Evil Corpse, Vox Lugosi (em que toco guitarra), Mestre Solar, Numbomb e Conexão Baú.

Na pandemia muitas bandas acabaram, mudaram formação, e várias outras surgiram, muitos artistas aproveitaram o tempo organizando suas produções e tem muita coisa vindo à tona em termos de lançamentos, clipes, discos, novos projetos.

Bandas como Terror Revolucionário, Galinha Preta, Os Maltrapilhos, Penúria Zero, Death Slam, Violator, continuam em atividade, mandando brasa!

Colaboração e edição: Michel Pozzebon
(Zine Musical)

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